quinta-feira, 23 de abril de 2009

Conto...

É impressionante como as coisas mais simples nos ensinam tanto!
Vivendo por aqui aprendo muito a cada dia que passa...

... e ela aparece na porta, arrumando os cabelos grisalhos com grampos de metal. Vestia uma saia surrada por tantas lavagens, uma blusa fina, bege, de lã e, nos pés arrastava lentamente um chinelinho de couro.
A casa era simples, paredes descascadas pelo tempo, imagens de santos penduradas misturavam-se a calendários atuais e antigos. Guardanapos feitos por mãos de mãe, avó, bisavó, serviam de apoio a vasos antigos com flores de plástico coloridas. Uma cortina desbotada pelo tempo deixava alguns raios do sol bater no sofá coberto por lençóis e almofadas desvanecidas. No fogão a lenha, ainda restava o fogo que há alguns minutos atrás aqueceu o almoço do marido e dos dois filhos que há essa hora já haviam voltado à lida. Ao fundo, na pequena e velha televisão sobre um guardanapo de pano floreado, passavam imagens da novela da tarde embalada por uma melodia calma que se misturava aos latidos dos cachorros e aos cocoricós das galinhas.

No rosto, o semblante de surpresa pelo alimento que veio em boa hora, se misturava a um sorriso tímido de agradecimento. As mãos, cansadas e maltratadas pelo trabalho na roça. Algumas palavras e as mesmas mãos trêmulas nos acenavam em despedida, mas os olhos já brilhavam agradecidos pela esperança renovada e pela ajuda inesperadamente recebida.
Texto: Márcia Peruzzolo